terça-feira, 18 de junho de 2013

Fenomenologia do Perdão -Convite NUER





             
  
  


FUNZANA "Fenomenologia do perdão: dança, silêncio e esperança na África do Sul" com Ida Mara Freire (CED/UFSC) www.escrevedance.blogspot.com/
O NUER convida a todos/as os/as seus pesquisadores/as para participar do FUNZANA "Fenomenologia do perdão: dança, silêncio e esperança na África do Sul" com a presença da Profa. Ida Mara Freire (EED/UFSC). Esta conversa pretende dialogar com as descrições fenomenológicas das atitudes de perdão do povo sul-africano e a experiência da dança coletiva toyi-toyi.

CFH / UFSC - (48) 3721-2420 - nuer.ufsc@gmail.com


http://www.nuer.ufsc.br/eventos.php?id=54

Educação Quilombola


quarta-feira, 5 de junho de 2013

Olhe e Pergunte: Como viver juntos?



Olhe e Pergunte: Como viver juntos?[1]

Recebo o e-mail: A cidade em estado de Múltipla Dança. Belo modo de ocupar o espaço público. Marta Cesar, coordenadora geral,  agradece as parcerias institucionais,  representadas pelas professoras Vera Torres da UFSC e  Sandra Meyer da UDESC, e a curadoria compartilhada com Jussara Xavier, e o apoio do Edital da CAIXA, dentre outros. E agradeço aqui você, leitor e leitora  que apreciaram ao seu modo as proposições do Múltipla. E no abrir e no fechar dos olhos descrevo brevemente  algumas atividades.

Cubra os seus olhos com as mãos e conte até dez.  E lá estamos todos nós, mães,  pais, filhas e filhos,  acompanhando, rindo, cantando, dançando entrelaçando  no corpo o passado, o presente e o futuro, por sugestão do espetáculo “Entrelace” do Teatro Xirê  apresentado no Múltipla Dança. A plateia busca perceber espaços sutis de encontro e convivência durante a performance coreografada e dirigida por Andrea Elias. No brincar entre crianças e adultos, entre cantos e  parlendas musicados  por PC Castilho, identificamos nos passos das dançarinas  Andrea Elias, Mayara Costa, Tânia Ikeoka e o dançarino Heder Magalhães,  os lugares do corpo que eternizam o encontro com o outro na memória.

E abrimos os olhos para contemplar as  epifanias visuais “Partida”, “Marahope”,  “O Regresso de Ulisses”, e  “Os Tempos” apresentadas por Andréa Bardawil e Alexandre Veras, na sessão de vídeo dança que celebra os  10 anos do Alpendre Casa de Arte, Pesquisa e Produção.

O olhar  do espectador se aproxima  para  explorar e  compreender o percurso do movimento antes de ser dança, ao participar da Conferência-Demonstração Laboratório Corpo e Dança, coordenado  por Jussara Xavier, na qual se enfatiza os processos de composição desenvolvidos pela dançarina Daniela Alves que apresenta a experimentação "Direção Múltipla Virtual"; e pelo dançarino Lincon Soares sua pesquisa parte da exaustão do corpo e do desequilíbrio em sua organização, para buscar modulações da aparência.
O espetáculo “Proibido Elefantes”, coreografado e dirigido por  Clébio Oliveira, sugere uma experiência perceptiva para o espectador e lembra com Agnes Heller: “quem não se liberta de seus preconceitos artísticos, científicos e políticos acaba fracassando, inclusive pessoalmente”. Quando o elenco da companhia Gira Dança composto por Álvaro Dantas, Jânia Santos, Joselma Soares, Marconi Araújo, Rodrigo Minotti e Rozeane Oliveira,  se coloca no palco descrevendo alternadamente os movimentos um do outro em um microfone, põe em evidência  como o que estamos a ver, também está a nos olhar.  De modo que percebamos a diferença nos corpos que dançam, visíveis no peso e tamanho, nos excessos e nas faltas.  E faz, também, perguntarmos:  como  nós com todas essas diferenças podemos viver juntos?
Mas, antes que você tenha alguma ideia, pare e repare. Pergunto: conheces o jogo das perguntas? 
Pois, o Múltipla Dança termina nessa semana com a Residência de João Fiadeiro (Portugal) e Fernanda Eugénio (Brasil), intitulada:  “Modo operativo AND”,  um modo de relação composto do jogo das perguntas “como viver juntos?” e “como não ter uma ideia?   Deixo-os agora leitor e  leitora ao sabor dessas e outras indagações.

 Publicado no Notícias do Dia em 03/06/2013.





[1] Ida Mara Freire
Professora associada do Centro de Ciências da Educação da UFSC
Pós-doutorado em Dança pela University of Cape Town- África do Sul

sábado, 1 de junho de 2013

Corpos transbordantes de água e ar



Espetáculo "Transborda"/ Foto: Cristiano Prim
Corpos transbordantes de água e ar[1]

“É sempre bom lembrar que um corpo está cheio de ar.” Altero a canção de Gilberto Gil para comentar os espetáculos de dança “Transborda” de Valeska Figueiredo, na noite de terça dia 28 e o “Um banho de Água Fria” de Elke Siedler, no fim de tarde de quarta dia 29, apresentados no Múltipla Dança.
Espetáculo: "Um banho de água fria"/Foto: Cristiano Prim 


Valeska Figueiredo explora a sensação de não se conter às experiências circunscritas no cotidiano.  Investiga o cheio e o vazio de si convidando o espectador a respirar junto,  gestar um gesto sustentado pelo  som e pela  luz. A sonoridade criada por Rogério Almeida favorece  perceber com nitidez  o rastro do deslocamento sonoro vibrante e descontínuo. A luz de Irani Apolinário desenha com a sombra um cenário imaginário.  Sutileza.  Uma atenção delicada é o que se vai exigir do espectador.  Procurar no corpo o caminho percorrido pelo ar inalado.  Atentar para o que não é dito, mas é dado  pela expressão facial, pelos gestos, pelos movimentos do corpo, pela voz que surge do ato de respirar.

Fiona Ross, pesquisadora sul-africana, observa a inter-relação entre as palavras e o silêncio, e constata como um pensamento criativo diante daquilo que se vê e se ouve contribui para novos modos de lidar com o conflito e a diferença.

Enquanto  conversávamos no calçadão da Felipe Schmidt, demoramos alguns segundos para percebemos a ocupação silenciosa da dançarina Elke Siedler e de Thiago Schmitz. Sua performance  leva para o meio da rua as incertezas presentes nas relações interpessoais. A vulnerabilidade e a falta de controle vividas intimamente entre quatro paredes são expostas a todos que ousam parar um minuto para ver aquela que trajava um vestido preto com rendas e de alças, e seus pés calçados  com uma sandália de salto alto e fino, que desafiavam sorrateiramente a gravidade, o esmalte vermelho das unhas se destacam tanto nos pés como nas mãos. A cabeça era coberta com um capuz de couro preto, com orifícios nos olhos, nariz e boca. As pessoas passavam, olhavam, aproximavam, se afastavam. Chegam até comentar o uso da água e do dinheiro público. Uma menina  buscava entender com seu olhar sincero o drama ali proposto pelo casal, manifesto na  ausência de  comunicação.   Na hora do banho,  escuto comentário: “mas não estão jogando água  nela? Ah, agora estão”; Olho o balde de água sendo jogado no corpo da dançarina encharcado. Presenciar  “Um banho de água fria” ali no calçadão, faz pensar que a negação da dor do outro não é uma falha intelectual, mas uma falha na sensibilidade.

Espetáculos como os de Valeska e de Elke podem nos auxiliar a exercitar a atenção  sensível e habitar o próprio constrangimento de testemunhar a dor do outro. Perceber como o ato de constranger e ser constrangido  opera na constituição da nossa própria fala e também do nosso silêncio. Atentar é um ato sutil e delicado.  Pode ser um esforço profundo compreender  a si mesmo e essas  pessoas  que dançam num palco sem cenário  ou no calçadão da Felipe Schmidt.  Eis o exercício de transbordamento ofertado pela alteridade, que  aprofunda a noção de  empatia, pois não exige que calcemos os sapatos do outro, mas que fiquemos descalços em sua presença.
Publicado no Notícias do Dia em 31 de maio de 2013




[1] Ida Mara Freire
Professora associada do Centro de Ciências da Educação da UFSC
Pós-doutorado em dança pela University of Cape Town, África do Sul